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Durante a década de 40 não se teve a realização das Copas previstas. A tragédia da Segunda Guerra
Mundial mobilizou o mundo para o esforço de guerra e impediu a realização dos certames. A FIFA, entretanto, permaneceu mobilizada
e tão logo foi possível tratou de marcar a disputa da IV Copa em um país fora do continente europeu, ainda em reconstrução.
A Copa do Mundo de 1950 contou com a participação de 13 países. Trinta e três participaram das eliminatórias. O campeonato
ocorreu no Brasil. Para o maior futebol do mundo, o maior estádio que o mundo já viu. Foi construído o Estádio Municipal do
Rio de Janeiro, o Maracanã. O Brasil organizou um mundial sensacional, com um público espetacular, que só foi superado décadas
depois. O Brasil de Zizinho, Barbosa, Bauer e Ademir (que foi artilheiro da Copa) foi brilhante, mas perdeu.
Por causa da Segunda Guerra Mundial, a Copa do Mundo não vinha sendo disputada desde 1938; as Copas
do Mundo de 1942 e 1946 foram canceladas. Após a guerra, a FIFA desejava ressucitar a competição assim que possível, e começaram
a planejar a próxima copa. No pós-guerra, a maior parte do continente europeu estava em ruínas. Como resultado, a FIFA teve
algumas dificuldades em encontrar algum país interessado em sediar o evento, uma vez que muitos governos acreditavam que o
cenário mundial não favorecia uma celebração esportiva, e também era mais importante que os recursos que seriam investidos
na Copa do Mundo não fossem extraídos de outras fontes mais urgentes. Por algum tempo, a Copa do Mundo estava em risco de
não ser realizada por causa de uma falta de interesse da comunidade internacional, até que o Brasil apresentou uma proposta
ao Congresso da FIFA de 1946, se oferecendo a sediar o evento, contanto que o torneio fosse realizado em 1950 (estava originalmente
planejado para 1949). Brasil e Alemanha eram os principais candidatos à cancelada Copa do Mundo de 1942; uma vez que tanto
os torneios de 1934 e 1938 foram sediados na Europa, historiadores do futebol geralmente concordam que o evento de 1942 provavelmente
seria sediado por um país sul-americano. A nova proposta brasileira era muito semelhante a de 1942 e foi rapidamente aceita.
Tendo escolhido uma sede segura para o torneio, a FIFA ainda dedicaria algum tempo para convencer os
países a mandar suas seleções nacionais para competir. A Itália era de um interesse particular para a entidade: os italianos
eram os defensores do título (vencedores em 1938), mas o país estava se reconstruindo após o final da Segunda Guerra, e primeiramente
havia um interesse próximo ao nenhum dos italianos se inscreverem. A Azzurra foi finalmente convencida a participar,
porém há rumores que a FIFA teve que custear as viagens para que a seleção italiana pudesse viajar até o Brasil.
Enquanto Itália e Áustria, duas equipes bem sucedidas no pré-guerra, não estavam sujeitos a sanções
internacionais, o Japão, ainda sob ocupação, e a ocupada e dividida Alemanha ainda não tinham permissão para competir. A região
do Sarre, ocupada pelos franceses, foi aceita pela FIFA duas semanas antes da Copa do Mundo, vários meses antes que a federação
de futebol da Alemanha Ocidental fosse reinstalada. A Alemanha Oriental ainda demoraria mais para fundar sua associação.
As nações britânicas puderam competir, tendo se reunido à FIFA quatro anos antes, após 17 de auto-exílio.
Foi decidido que o 1949-50 Home Championship seriviria de eliminatória, com o campeão e vice se classificando. A Inglaterra
terminou em primeiro e a Escócia em segundo, mas os escoceses optaram por não participar da Copa. Só o fariam se tivessem
conquistado o primeiro posto.
Dois outros times, Turquia e Índia, também desistiram após se classificarem. A Índia não foi pois a
FIFA não permitiu que eles jogassem descalços. França e Portugal foram convidados para repor as vagas, mas declinaram. Incialmente
a França concordou em jogar, mas depois reclamou que as partidas de seu grupo compreenderiam uma distância de mais de 3.000
quilômetros. Os franceses disseram aos brasileiros que não sairiam de casa se isto não fosse mudado. A Federação Brasileira
recusou e a França desistiu. Sendo assim, ainda que 16 times estivessem originalmente previstos, somente 13 tomaram parte
no torneio.
Seis cidades sediaram o torneio:
- Belo Horizonte, Estádio Raimundo Sampaio
- Curitiba, Estádio Durival Britto e Silva
- Porto Alegre, Estádio dos Eucaliptos
- Recife, Estádio Ilha do Retiro
- Rio de Janeiro, Estádio Jornalista Mário Filho
- São Paulo, Estádio do Pacaembu
Na 1ª fase, o Brasil venceu por 4 a 0 o México, empatou em 2 a 2 com a Suíça (neste jogo o Brasil atuou
com jogadores paulistas, pois o jogo foi no Pacaembu o único fora do Maracanã, desfigurando a seleção) e venceu a Iugoslávia
por 2 a 0.
Uma das grandes decepções foi a Inglaterra, que perdeu por 1 a 0 para os Estados Unidos, numa das maiores
zebras de todos os tempos. No seu grupo a classificada foi a Espanha, "a fúria", que venceu a Inglaterra por 1 a 0, o Chile
por 2 a 0 e os EUA por 3 a 1. O Uruguai só enfrentou a Bolívia em Recife e goleou 8 a 0. A Itália, bi-campeã mundial, também
caiu na 1ª fase, mas o time não era nem sombra de antes devido ao trágico acidente aéreo que vitimou o time inteiro do Torino,
base da Squadra Azurra. Os classificados foram os suecos, que ganharam da Itália por 3 a 2 e empataram com o Paraguai
em 2 x 2, garantindo passagem para a fase seguinte. Na final, um quadrangular inédito e único em copas: Brasil, Suécia, Espanha
e Uruguai.
Brasil 7 a 1 na Suécia e Brasil 6 a 1 na Espanha garantiram ao Brasil uma boa vantagem frente ao Uruguai.
Em 16 de julho diante de um público de 199.954 pessoas (alguns estimam cerca de 205 000 espectadores) no Maracanã, o Brasil
precisava apenas empatar com o Uruguai e o troféu seria dos donos da casa. Após vitórias esmagadoras contra Espanha e Suécia,
parecia certo que os brasileiros fossem ganhar o título, especialmente quando Friaça abriu o placar aos dois minutos do segundo
tempo. Porém o Uruguai empatou com Juan Alberto Schiaffino e, com 11 minutos faltando para o final da partida, virou o jogo
com um gol de Alcides Ghiggia, tornando-se campeões mundiais pela segunda vez.
O jogo final é conhecido como maracanazzo, derivada uma expressão latina usada pelos adversários para
provocar os brasileiros.
O silêncio tomou conta do Maracanã às 16 horas e 50 minutos do dia 16 de julho. O Brasil precisava
de um empate. Saiu ganhando e perdeu por 2 a 1. Desolados, os quase 200 mil torcedores demoraram mais de meia hora para deixar
o estádio. O time brasileiro fez trinta lances a gol (dezessete no primeiro tempo e treze no segundo). Os jogadores cometeram
quase o dobro de faltas, um total de 21, contra apenas onze do Uruguai.
O presidente da FIFA, Jules Rimet, conta um caso curioso no seu livro La historie merveilleuse
de la Cope du Monde: "Ao término do jogo, eu deveria entregar a Copa ao capitão do time vencedor. Uma vistosa guarda
de honra se formaria desde a entrada do campo até o centro do gramado, onde estaria me esperando, alinhada, a equipe vencedora
(naturalmente, a do Brasil). Depois que o público houvesse cantado o hino nacional, eu teria procedido a solene entrega do
troféu. Faltando poucos minutos para terminar a partida (estava 1 a 1 e ao Brasil bastava apenas o empate), deixei meu lugar
na tribuna de honra e, já preparando os microfones, me dirigi aos vestiários, ensurdecido com a gritaria da multidão".
Aconselhado a descer devagar a escada até o vestiário, Jules Rimet ia acompanhado por delegados da
FIFA, dirigentes brasileiros e guardas armados com a missão de proteger a taça de ouro.
"Eu seguia pelo túnel, em direção ao campo. A saída do túnel, um silêncio desolador havia tomado
o lugar de todo aquele júbilo. Não havia guarda de honra, nem hino nacional, nem entrega solene. Achei-me sozinho, no meio
da multidão, empurrado para todos os lados, com a Copa debaixo do braço"
Jules Rimet não conseguiu entregar a taça e decidiu se retirar. Mas logo depois voltou e Obdulio Varela
recebeu a taça. Rimet disse: "Estou feliz pela vitória que vocês acabam de conquistar. Cheia de mérito, sobretudo por ter
sido inesperada. Com minhas felicitações".
Na tentativa de encontrar um culpado para a derrota do Brasil, os supersticiosos de plantão culparam
a troca do local de concentração na véspera da final. O Brasil trocou a concentração de Joá pelo estádio do Vasco da Gama
em São Januário. Outros culpam Flávio Costa pelas 2 horas de missa na manhã do jogo impostas pelo treinador aos jogadores,
que rezaram de pé.